O belo velho invisível

Não se diga,
Que de onde brota a espiga
só se aproveita o grão.
Não se diga que o milho
Perante o sol, com seu brilho,
Não relampeja a visão.
É passivo
Que todo calor que é vivo
Não vive só por ser útil,
Não é fútil
Se morre sem ser usado.
O milho que seca ao sol
Por não ter sido colhido,
Mesmo esquálido,
sórdido,
Não se resume a ser mórbido
Se ele se acha seco
É por ter de todo se dado
E seu turgor transformado
Em beleza
P’ra compor a natureza.
Ironia
Odeio aquele que forja a estética
E anseia por uma imagem poética
Em uma rima sintética.
Odeio o sorriso impuro
E o sentimento escuro
Do infeliz que cria
Uma obra vazia,
Uma estrutura fria,
Farta de fantasia,
Pobre de poesia.
Odeio quem chama a rosa
De fétida
Só p’rá ter métrica.
Odeia quem louva o mar,
E cria a boca do mar,
E cria alegria no ar,
E cria dentes p’ro mar,
E diz: “Ri mar!”
Só p’ra rimar.
Felicimplicidade
Bom mesmo é ver razão
Nos olhos de uma paixão
Bom mesmo é ver paixão
Nas lavas de um vulcão
Bom mesmo é ver vulcão
Nas mágoas do coração
Bom mesmo
É rir a esmo…
Aprendizado
Se Tudo,
Todos os
Timbres
Tremidos
das anTenas
Tesas e
Trêmulas das
Tarântulas,
Se Todas as
Trações,
Turgores,
Trepidações,
Temores,
Se o Tom das
Tulipas
E seus Odores,
Se os Timbres
dos Tormentos
Todos,
Assim não fossem,
Terias
Tu
Aprendido
Tudo quanto aprendeste?
Meu Mundo Mórbido
Meus males,
Minhas
Mortalhas,
Meus
Monstros
Marinhos
Matam,
Minguam,
Mostram
Mortas
Minhas
Maravilhas…
Meus males,
Minhas
Manias
Macabras
Moem,
Massacram,
Mordem,
Mimetizam
Meus
Momentos…
Meus males,
Meus milagres,
Minhas
Maldades
Matam
Mas não
Movem
Meus
Moinhos…