Sono
Sumo no
sumo sumo…
No sumo máximo,
essência, calda,
do sono
Somo meu sono
ao sumo
que em resumo
some com meus reflexos
Sumo, desapareço,
perco o endereço,
porque o sono
soma seus rumos
a outros rumos mais sumos e complexos
Sonho,
mas não no sono
porque nós somos
nos sonos
gomos
sem sumos,
Sussurros sonsos,
sibilos tantos
que os cantos
somam aos sonos
Que sonos não somos
quando o sumo
dos sonos se assoma?
Pedido do tempo
O tempo pediu
Que não fossem desprezíveis as manhãs…
Que os dias passados
Fossem lembrados
Mas não como um ponto escuro
Um sentimento
Perpétuo
Persistente
Que absorve o futuro…
Que as estrelas
Não fossem
Apenas
Planetas frios,
Pequenos pontos piscantes…
Que houvesse entre elas
Coisas mais belas
E menos distantes…
Que cada lua trouxesse
Uma emoção mais jovem
Mais livre
Mais viva
E que os bons atos
Não fossem
Somente
Friamente
Mecanicamente
Plásticos frutos
De uma carência afetiva
O tempo pediu
Que não fossem
Tão inúteis as flores
Nem tão ridículos
Os amores
Que a formiga preta
Sobre a pedra
Iluminasse o deserto
Com uma luz
De magia
Até que viesse
O dia.
Deus
Místico de força
Movimento e
Energia
Que na primazia
de um ato
fez as coisas serem
Princípio da existência,
Palavra que desintegra
todos os complexos
conceitos
que encerram
os milagres
da criação …
Algo que só o espírito,
o pensamento,
a poesia
e a filosofia
explicaria
A força da existência,
que se situa nas origens
e longe do alcance
dos conceitos
da razão
(verde)
Deixa eu ver-te verde mar
Deixa eu ver, te ver de verde
Deixa eu ver o verde
De esmeralda
E a melodia
das praias da Bahia
Deixa eu te ver verde lindo
De brilhos encantadores
de amores
que vem vindo.
Deixa eu ver, sentir no verde
a força do turbilhão que movo
e contemplar na serra a grama
do verde novo
e vislumbrar na praia a chama
a fama
a terra
o chão moreno do Brasil
Meu povo!
A menina (ou a guitarra)
Veja os olhos
grandes, verdes
da menina.
A menina
olha pra cima,
fecha os olhos
e toca
a guitarra…
Ninguém sabe
no que vai dar
aquele solo!…
Naquele acorde
há mais que um som.
As cordas vibram
e vibra o espírito,
enquanto a mente
para de pensar
nas coisas usuais
e sai varrendo louca
um livro grosso
repleto de páginas
de sonho…
A menina
olha pra cima,
fecha os olhos
e toca
a guitarra…
Ela mostra
em cada parte
a arte
que aprendeu.
Não se sabe
se ela sabe
tocar
em seus amantes
com o mesmo estilo
com que toca
a guitarra…
Mas isso é coisa pra depois.
Depois do show,
depois do sonho,
depois que ela guardar
a guitarra.
Foto de Denis Vasil’ev on Unsplash
Já que se varre até o dia
De manhã cedo
ela acordava,
Abria a janela,
e via
as cores vivas e o sol
daquele dia.
Se levantava,
pegava uma vassoura
e varria, varria, varria
e assim ficava
durante todo o dia…
varria tudo que podia
varria, até, talvez, sua alegria
abrindo mão do sol daquele dia.
Enquanto isso ele acordava,
abria a janela e sorria.
Se sensibilizava com as cores
de verão
daquele dia.
Pensava em trabalhar,
mas desistia.
Ia para a praia só,
sem companhia.
Procurava um cantinho
e lá sentava
e lá ficava
e refletia.
“E ela? Aonde estaria?”
Não sabia…
“Se convidasse,
será que ele viria? …
ou preferiria
ficar em casa
varrendo aquele dia?”
Nota do autor: "varrendo aquele dia", além do significado literal aqui significa também "jogando fora aquele dia, eliminando (a oportunidade de desfrutar) aquele dia"
Letra sem melodia, pra Titia
Quando ela ensina
fascina.
Traz no seu ofício
paixão.
Sabe responder
a questão.
Traz nos dedos hábeis,
anéis.
Faz dos seus alunos
fiéis.
Leva em seu sorriso
incentivo.
E com dicas poucas
e roucas,
Fala do estacato
ao novato.
Quando ela diz
ao aprendiz
Sobre seu passado
guardado:
Vida bem vivida
corrida!
Autobiografia,
poesia.
Goiabada, queijos
e arpejos
São os seus confessos
desejos.
Quando ela toca
encanta.
Mostra habilidade
que é tanta.
Sua mão esquerda
pontua
Com acordes puros
seguros.
Sua mão direita
flutua
Com uma leveza
de alteza.
Desse som que ela
produz,
E muitos ouvidos
seduz,
Desta melodia
poesia,
Deste som não toco,
não toco.
Deste som colosso,
só ouço.
Desafio
Toca
Toca a flauta
E toca o corpo
Da mulher que é sua amada
E toca a flor que desabrocha
no penhasco da emoção
Que vive em cada coração
*
Toca
Toca a arpa
E toca a luz
De cada noite enluarada
Tocando a luz que desabrocha
No nascer da madrugada
E toca a voz angustiada
Que encerra essa emoção
*
Toca
E toca a cor
Da dor da mente
E toca a estrela cadente
Que desperta adormecida
De um repouso de cem vidas
Que galgou o fim do mundo
E voltou em um segundo
P’ra cair na sua mão
*
Toca
Toca forte o violino
E toca a mão deste menino
E toca o mar e o turbilhão
E toca as trancas do alçapão
Que leva ao chão
Quente e profundo
E aos mistérios deste mundo
Que se encerram na canção
De matemático para matemáticos
Se você tem fé,
Vamos!
Experimenta e
Espere menta.
Mas cuidado!
Que o mundo é imprevisível
E a menta pode não vir doce
E seu gosto pode vir irracional
E a menta
Pode vir pi-vezes-menta
E a menta
Pode vir pimenta.
O belo velho invisível
Não se diga,
Que de onde brota a espiga
só se aproveita o grão.
Não se diga que o milho
Perante o sol, com seu brilho,
Não relampeja a visão.
É passivo
Que todo calor que é vivo
Não vive só por ser útil,
Não é fútil
Se morre sem ser usado.
O milho que seca ao sol
Por não ter sido colhido,
Mesmo esquálido,
sórdido,
Não se resume a ser mórbido
Se ele se acha seco
É por ter de todo se dado
E seu turgor transformado
Em beleza
P’ra compor a natureza.